terça-feira, dezembro 19, 2006

Reajuste

Pessoal, fiquem à vontade para ler, discutir e assinar....

Abaixo-assinado contra reajuste tem 17 mil nomes
A comunidade virtual "Rede de Informação e Discussão do Terceiro Setor", que reúne participantes de organizações não-governamentais (ONGs) brasileiras, disponibilizou na internet um abaixo-assinado contra o reajuste de 91% nos próprios salários concedido por deputados e senadores na última quinta-feira.
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Leia mais reportagens do jornal O Dia
O objetivo dos organizadores é reunir dois milhões de assinaturas para criar uma lei derrubando a medida. Até as 13h30 desta segunda-feira, 17.376 internautas já haviam assinado o documento, que manifesta "o protesto da sociedade civil brasileira inconformada com esta manobra oportunista e repulsiva".
"Passamos um ano inteiro vendo os projetos de lei de interesse do povo trancados na pauta de votação, pelo motivo de estar o Congresso Nacional debruçado sobre si mesmo, em apuração de denúncias internas de corrupção e falta de decoro parlamentar, logo, não podemos aceitar tal pretensão em relação aos vossos rendimentos", assinala.
As subscrições podem ser feitas em
http://www.petitiononline.com/oeleitor/petition.html

segunda-feira, novembro 27, 2006

Falas de Civilização


Falas de civilização, e de não dever ser,
Ou de não dever ser assim.
Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos,
Com as cousas humanas postas desta maneira.
Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos.
Dizes que se fossem como tu queres, seria melhor.
Escuto sem te ouvir.
Para que te quereria eu ouvir?
Ouvindo-te nada ficaria sabendo.
Se as cousas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
Se as cousas fossem como tu queres, seriam só como tu queres.
Ai de ti e de todos que levam a vida
A querer inventar a máquina de fazer felicidade!

Poema de Alberto Caeiro
Pintura: "Operários", de Tarsila do Amaral.

domingo, novembro 12, 2006

Dicionários e Libretos


A gente vai aprendendo que alguns pensamentos que estão na cabeça há algum tempo têm lá sua razão. Palavras que não apresentam nenhuma conexão com o restante do texto não significam que elas não tenham sentido, muito menos que o sentido esteja escondido. Com isso, fui percebendo o quanto nosso jeito de levar a vida vai obnubilando certos aspectos da nossa percepção e vai provocando uma certa separação (vide os momentos de êxtase na contemplação de uma obra de arte e o incômodo que uma música entendida como ruído pode provocar; lembre-se das vezes em que nos separamos de alguém que escreveu algo interessante, como se não tivéssemos capacidade de fazê-lo à nossa própria maneira). É, talvez a preocupação em entender desvirtue aquilo que se coloca como mensagem.
Artaud: "É preciso acabar com as obras-primas"; Beethoven: e a dificuldade que a tentativa de entender como uma pessoa que teve uma surdez progressiva e irreversível conseguiu construir algo tão grandioso como a 9ª Sinfonia; Rodin: e a irretocável precisão das curvas corporais; Einstein: e a teoria da relatividade?; Bispo do Rosário: e a confecção de seu casaco para chegar ao céu na hora de encontrar Deus?...
Energúmenos só querem olhos para ver o que não os cega. Obras-primas trazem algo de novo, mas o novo não aparece senão num ambiente sempre a porvir.
As produções humanas, enquanto criação (i)maculada de uma estética de vida, só pedem uma coisa: esqueça a nota do seu dicionalibreto, provoque uma outra que mais lhe aprouver... Deixe a música da sua palavra aparecer...
Foto de Man Ray.

domingo, outubro 29, 2006

parakepractibum


É sabido que em todo outono, altos tons trilicritantes sonorificam o tônus do corpo das árvores, trazem mais tonicidade, e, por isso, alegres que ficam, fincam com punho firme na História contrales e oleripactes os salvos da inércia - eu disse salvos da inércia... Portanto, espívitas líveas, linos de suaves soares e abrandantes cantos para todos os que sabem das idas e vindas da abalada Sinfra de Quierus. Para todos que praticam esse aquecimento, brindemos gritando o mais silencioso - pois que estar só nunca significou tristeza, a não ser para aqueles que têm como companheira a inércia. Obstinação e coração selvagem, marés e explosões de ondas, luz cinzenta e figura solar... blaupunkt e patavinas...
(aiai, meus sapatos estão me esperando para com eles prosseguir, cansei das bolhas)

segunda-feira, outubro 16, 2006

Voyeur


Foi ali, naquele canto, que te vi como nunca te vi antes... Ah, só eu vi seus olhos daquele jeito - eu, o privilegiado. Quanta coisa presente no momento em que te vi da maneira que nunca tinha te visto: vi alegria, dor, prazer, franqueza, força e delicadeza, vi entrega, desespero, porto, navio, nave, cabelo e olhos... vi dúvida e vi certeza... vi rasgos e feridas, mas vi também sorrisos e molecagens... O tom da certeza... Só eu vi isso tudo e não vi mais nada... Esqueci de mim e fechei os olhos, mas, ainda assim, estava olhando para você... daquele jeito...

sexta-feira, outubro 06, 2006

A incapacidade de ser verdadeiro


"Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões-da-independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas.
A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias.
Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
-­ Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia".
Carlos Drummond de Andrade.

terça-feira, setembro 26, 2006

Loucpostura ou OGUM

Liberdade!!!
Que morram cristos e lúcifers, que morram todos os guardiães dos portais do inferno e todos aqueles que agem de joelhos dobrados ao chão - e que ninguém ressuscite!!! -, morram os enfermos e os que gritam ao deus "que me mantenha são"!!! Morram deuses e mais deuses ao redor dos quais construímos o que consideramos como o mais firme de nossa vida, que morram esses que tenham se tornado nossa própria vida!!! (Quanta vida se perde da vida ao escutarmos esses ídolos!!!) Morram as certezas, as dúvidas e as dívidas!!! Morram a estrada, o caminho e o desvio!!! Morra o antes e morra a cada instante o depois!!! Que morra o agora??? Qual a missão dos personagens da tragédia??? Para qual tipo de vida se mostram tão sábios??? Quando a morte é sábia e quando ela é a mais fervente vida???
A espada... a espada... que seja ela a guiar o braço, a perna, o coração...........

domingo, setembro 17, 2006

Francamente...


Qual o resultado da fricção entre o frênulo e a frenha? Frondosos e generosos momentos da mais frutífera lascívia. Pois bem, fraldoso francelho é aquele que perde momentos como esse, fraudulento que só sente em frangalhos. Prepara essa sua franja e que ela tinja teu corpo de frincha, coloque em sua frasqueira aquele produto de cor framboesa e mais os frascos de fragrância das mais frouxas e açucaradas. Frasemaníaco, não me contento com isso tudo tão fragmentado... Frenesi... Vocês sabem o que é um frescobolista? Ok, ok, você venceu... french fries... Frete de uma viagem só - na frente, só o sol fremente... Frieira no pé é só fricote de quem dança frevo e tem chulé. Na frivolidade com que uns desdenham o front e a fruta, termino com um frúnculo: sebo frustrado em sua fruição.

terça-feira, setembro 05, 2006

Só deixe...


Nunca imaginei que um dia pudesse ser assim. Enquanto escrevia, estava distante da escrivaninha - a cadeira em que estava encostado não me deixava chegar perto. A caneta estava estranhamente pesada... ela vibrava em minha mão... esquentava... (ou era minha mão que estava ansiosa?) Diante de mim estava a sua carta... e meus olhos fixaram-se - eles não conseguem desviar - numa de suas palavras. Vagarosamente, o absurdo ia controlando tudo... já não sei mais. "Há algo de obsceno e libidinoso na própria forma das letras", diria Joyce. Irresistível e diabólico. O que é esse movimento que me faz ficar sentado quase imóvel, como se fosse aparecer a coisa mais fantástica que poderia fazer? O que é isso? Vagarosa e asperamente rasgando. Sempre. É ou não é assim? Ficar em cima e lutando para sair da caneta o possível de se escrever, ainda que impossível... Não vejo outro verbo senão espremer...
Descobri, é verdade, sou um ladrão... Para que o roubo seja sagrado, não é você que tem que falar, deixe o desastre falar em você...
Pintura de Matisse.

terça-feira, agosto 29, 2006

À baixa luz


Assim te aguardo, meu querido, assim como em oração. E estarei aqui, imóvel, à baixa luz - para que o ambiente de volúpia se mantenha nesse lençol, para que a lembrança permaneça ardente como se tu se apresentasse a mim a todo minuto nesse altar. Oro para que me atendas, para que intercedas por mim - ah, que esse martírio não se prolongue -, oro em nome... de ti. Abençoada sou pelo óleo que unge meu corpo - esse óleo que vem apenas... de ti. Pois que meu coração só a ti pertence, pois que só a teu corpo o meu se liga, pois que só a mim mesma minhas mãos estarão presas - para que venhas me libertar...
Foto de Man Ray, "A oração".

sexta-feira, agosto 18, 2006

Sempre no entre


Os ipês valem a pena, sim valem. No coração deles pulsa o espírito da Intermitência; no meio da estação fria sua ternura floresce. Parecem guardar o que têm a oferecer como se fosse um segredo; parecem mostrar o que escondem timidamente logo nos momentos em que força e beleza são inesperadas... Não importa de que maneira nem o local - eles não pensam em se fazer valer a pena; é no não pensar que eles se mostram...
...é-se sempre no entre...

sexta-feira, julho 28, 2006

Correndo o risco


Logo de início, sei o risco que estou correndo - sei mesmo. A foto acima deixa claríssimo que pretendo dizer com isso. Mas, profundamente tocado com o último post do blog de meu amigo Felipe (esse do "The Felipe Theory"), fiquei relembrando das cenas do Super Man. Realmente é espantoso o fato de um dito "Homem de Aço" ter se tornado aquele pangó véio, e logo depois de anos de experiância - depois dos 50, como bem lembrou meu amigo.
Nesses tais anos de experiência, o que chama a atenção é seu senso moral. Como pode um ser de Krypton ter um senso moral tão aflorado, tão mais bem articulado, mais bem condensado e mais explícito do que alguém de nosso planeta? "Ah, Bruno, mas é um personagem..." Tudo bem, eu sei disso, e sei também que os personagens não são criados gratuitamente. Mas a questão persiste nesse personagem que crê num Bem. Continuando a questão, e navegando pela net, me deparo com essa foto... A questão sofre uma torsão e é acrescida de um pedido: "Super Man não existe, certo? Mulher Maravilha também não, certo? Se não existem, referem-se a que paixão humana? Que Bem esses personagens buscam? Se não o encontram, então, por favor, encontrem algo para colocar na cabeça desse rapaz (o da foto), que me parece adorar investigar mecânica de automóveis!!!"
Esse post poderia ter como título: "Fatos do cotidiano".

sexta-feira, julho 21, 2006

Esperança

- (Ele, aos prantos) Por favor, por favor... Não diga que é assim, minha. Por favor, não diga que as vozes do mundo blasfemam o sol. Nosso deus precioso e único é o correto e é o que dá linha para nossa vida, para nosso contorno - linha para o meu contorno... por favor, minha, não diga que é de outro modo... De que modo seria, não sei, mas não esse... A escuridão nos mataria e não ter linha é ser areia que se esvai pelas mãos... é ser água, não mercúrio... O sofrimento sem a linha é infinitamente insuportável... por favor... não diga... não...
- (Ela, chorosa, consola) Sim, meu... Assim sonhei... Um levante... A cada dia prepara-se as mãos, os punhos, as pernas e as articulações possíveis para que o corpo não perca essa linha de contorno... Cria-se um campo de batalha para que o corpo não se perca de si. Dói sonhar assim... sofro contigo, mas assim sonhei...
Indivíduo, pretenso unívoco que sofre do contra-senso de querer ser uno e reto. Sua esperança:
"Que o sol ilumine esse emaranhado que é o homem, que a energia lhe tire o caráter expanso-nocivo. Que seja reto e nunca torto, visto que desde sempre percorre o mundo morto e que permaneça assim - morto. Que o sol lhe traga à luz, e, desse modo, o exima daquilo que corrói. Nunca mais a escuridão, nunca mais a expansão".
A barreira está nesse sol que resseca a elasticidade da mão, que não permite que se feche, que não permite que seja forte, que não permite que golpeie, que não permite que golpeie, que não permite que golpeie, que não permite força, golpe. Que não seja mais esse sol, mas o que dança, o que permite andar descalço - o que desbanca qualquer tentativa de ser sapato lustrado. Mas "quanta verdade suporta, quanta verdade ousa um espírito?"(Friedrich Nietszche).
"... é atraente tratar a confusão de formas que o mal toma como meio de tentar enfrentar a sua total inexplicabilidade. Se as razões ou motivos para a ação são inexplicáveis ou não, depende de como uma cultura organiza suas idéias sobre o mundo e a natureza humana" (Mark Hobart).
Obs.: Escultura "Jeanne d'Arc (Head of Sorrow)", de Auguste Rodin.

segunda-feira, julho 17, 2006

O que te ilude (?)...


"Vamo brincá de ficá bestando e fazê um cafuné no outro e sonhá que a gente enricô e fomos todos morar nos Alpes Suíços e tamo lá só enchendo a cara e só zoiando? [...] Vamo brincá de morrê, porque a gente não morre mais e tamo sentindo saudade até de adoecê?"
Talvez essas palavrinhas da D. Hilda Hilst sejam um bom começo para o post. O que se pode tirar disso? Sonho e ilusão... Sonho de riqueza e prazeres, ilusão de um corpo limpo. (Sei que tem gente que vai ler isso e vai dizer: "Ixi, lá vem ele com essa história de novo". Bom, a história taí.)Por que "saudade" de adoecer? Fruto de uma "brincadeira" de não querer morrer mais? Que ilusão está presente nessa onda de ter tal "saudade"? Se "felicidade" tem sido o objetivo, cuidado... "vai, viaja, foge daqui que a felicidade vai atacar pela televisão e vai felicitar, felicitar, felicitar, felicitar, felicitar até ninguém mais respirar"... Quem diria, hein? A felicidade atacando... e ela sufoca.
A fantástica cidade do cinema. Hollywood e a sagrada família das celebridades cheia de vida perfumada e luxuosa... Quem não gostaria? Afinal, a felicidade é Hollywood, não? Ou pelo menos é o que tentam nos dizer... A construção da felicidade tem grande influência de uma vida hollywoodiana, mas gostaria de colocar o seguinte: "menina, amanhã de manhã quando a gente acordar quero te dizer que a felicidade vai desabar sobre os homens". (Queria saber se alguém, dos que estão lendo, já se atentou para isso.) Perdido nessa região que temos a impressão de nos receber de braços abertos (vocês já viram uma foto de Los Angeles?), sabemos o quanto não se tem lugar lá, o quanto a luz do sol está sendo esquartejada (o sol é para poucos): "You should’ve never trusted Hollywood".
Só para terminar: "O que te ilude é Roliúde, Roliúde-úde".
Agradecimentos especiais à Hilda Hilst, Tom Zé e System of a Down, assim como às pessoas que me apresentaram a essas preciosidades cotidianas.