sexta-feira, julho 28, 2006

Correndo o risco


Logo de início, sei o risco que estou correndo - sei mesmo. A foto acima deixa claríssimo que pretendo dizer com isso. Mas, profundamente tocado com o último post do blog de meu amigo Felipe (esse do "The Felipe Theory"), fiquei relembrando das cenas do Super Man. Realmente é espantoso o fato de um dito "Homem de Aço" ter se tornado aquele pangó véio, e logo depois de anos de experiância - depois dos 50, como bem lembrou meu amigo.
Nesses tais anos de experiência, o que chama a atenção é seu senso moral. Como pode um ser de Krypton ter um senso moral tão aflorado, tão mais bem articulado, mais bem condensado e mais explícito do que alguém de nosso planeta? "Ah, Bruno, mas é um personagem..." Tudo bem, eu sei disso, e sei também que os personagens não são criados gratuitamente. Mas a questão persiste nesse personagem que crê num Bem. Continuando a questão, e navegando pela net, me deparo com essa foto... A questão sofre uma torsão e é acrescida de um pedido: "Super Man não existe, certo? Mulher Maravilha também não, certo? Se não existem, referem-se a que paixão humana? Que Bem esses personagens buscam? Se não o encontram, então, por favor, encontrem algo para colocar na cabeça desse rapaz (o da foto), que me parece adorar investigar mecânica de automóveis!!!"
Esse post poderia ter como título: "Fatos do cotidiano".

sexta-feira, julho 21, 2006

Esperança

- (Ele, aos prantos) Por favor, por favor... Não diga que é assim, minha. Por favor, não diga que as vozes do mundo blasfemam o sol. Nosso deus precioso e único é o correto e é o que dá linha para nossa vida, para nosso contorno - linha para o meu contorno... por favor, minha, não diga que é de outro modo... De que modo seria, não sei, mas não esse... A escuridão nos mataria e não ter linha é ser areia que se esvai pelas mãos... é ser água, não mercúrio... O sofrimento sem a linha é infinitamente insuportável... por favor... não diga... não...
- (Ela, chorosa, consola) Sim, meu... Assim sonhei... Um levante... A cada dia prepara-se as mãos, os punhos, as pernas e as articulações possíveis para que o corpo não perca essa linha de contorno... Cria-se um campo de batalha para que o corpo não se perca de si. Dói sonhar assim... sofro contigo, mas assim sonhei...
Indivíduo, pretenso unívoco que sofre do contra-senso de querer ser uno e reto. Sua esperança:
"Que o sol ilumine esse emaranhado que é o homem, que a energia lhe tire o caráter expanso-nocivo. Que seja reto e nunca torto, visto que desde sempre percorre o mundo morto e que permaneça assim - morto. Que o sol lhe traga à luz, e, desse modo, o exima daquilo que corrói. Nunca mais a escuridão, nunca mais a expansão".
A barreira está nesse sol que resseca a elasticidade da mão, que não permite que se feche, que não permite que seja forte, que não permite que golpeie, que não permite que golpeie, que não permite que golpeie, que não permite força, golpe. Que não seja mais esse sol, mas o que dança, o que permite andar descalço - o que desbanca qualquer tentativa de ser sapato lustrado. Mas "quanta verdade suporta, quanta verdade ousa um espírito?"(Friedrich Nietszche).
"... é atraente tratar a confusão de formas que o mal toma como meio de tentar enfrentar a sua total inexplicabilidade. Se as razões ou motivos para a ação são inexplicáveis ou não, depende de como uma cultura organiza suas idéias sobre o mundo e a natureza humana" (Mark Hobart).
Obs.: Escultura "Jeanne d'Arc (Head of Sorrow)", de Auguste Rodin.

segunda-feira, julho 17, 2006

O que te ilude (?)...


"Vamo brincá de ficá bestando e fazê um cafuné no outro e sonhá que a gente enricô e fomos todos morar nos Alpes Suíços e tamo lá só enchendo a cara e só zoiando? [...] Vamo brincá de morrê, porque a gente não morre mais e tamo sentindo saudade até de adoecê?"
Talvez essas palavrinhas da D. Hilda Hilst sejam um bom começo para o post. O que se pode tirar disso? Sonho e ilusão... Sonho de riqueza e prazeres, ilusão de um corpo limpo. (Sei que tem gente que vai ler isso e vai dizer: "Ixi, lá vem ele com essa história de novo". Bom, a história taí.)Por que "saudade" de adoecer? Fruto de uma "brincadeira" de não querer morrer mais? Que ilusão está presente nessa onda de ter tal "saudade"? Se "felicidade" tem sido o objetivo, cuidado... "vai, viaja, foge daqui que a felicidade vai atacar pela televisão e vai felicitar, felicitar, felicitar, felicitar, felicitar até ninguém mais respirar"... Quem diria, hein? A felicidade atacando... e ela sufoca.
A fantástica cidade do cinema. Hollywood e a sagrada família das celebridades cheia de vida perfumada e luxuosa... Quem não gostaria? Afinal, a felicidade é Hollywood, não? Ou pelo menos é o que tentam nos dizer... A construção da felicidade tem grande influência de uma vida hollywoodiana, mas gostaria de colocar o seguinte: "menina, amanhã de manhã quando a gente acordar quero te dizer que a felicidade vai desabar sobre os homens". (Queria saber se alguém, dos que estão lendo, já se atentou para isso.) Perdido nessa região que temos a impressão de nos receber de braços abertos (vocês já viram uma foto de Los Angeles?), sabemos o quanto não se tem lugar lá, o quanto a luz do sol está sendo esquartejada (o sol é para poucos): "You should’ve never trusted Hollywood".
Só para terminar: "O que te ilude é Roliúde, Roliúde-úde".
Agradecimentos especiais à Hilda Hilst, Tom Zé e System of a Down, assim como às pessoas que me apresentaram a essas preciosidades cotidianas.