sábado, junho 27, 2009

Nossa discoteca

Foi meio que à luz de velas, mas parecia que, apesar de no escuro, estávamos na discoteca mais colorida. Orgulhosos de Tom Zé, do Silvio Santos, dos super-heróis (com ou sem capa) e de séries americanas, a dança começou (como sempre) tímida e foi esquentando até que não era mais a chama das velas, mas canhões de luzes iluminavam nossa alegria. Alegria de quê? Só de estar ali, conversando, dançando e recitando poesia com amigos. Do ecletismo nosso de todo dia, não poderia faltar Abba e Michael Jackson. A este último, mais uma homenagem; aos que estiveram em nossa "discoteca", a certeza de que foram horas preciosas e adoráveis.

quinta-feira, junho 25, 2009

Dança mágica

Por todo espetáculo que foi feito da vida de Michel Jackson, a primeira impressão é que sua morte seja uma jogada de marketing. Bom, confirmado o termo de sua vida, não poderíamos dizer que ele ressurgiria de um mal-entendido (será?) e continuasse a ser notícia vez ou outra, mas, lembrando tudo o que ele fez, criou em imagem e dança, e agrupou entre músicos os mais variados e importantes do cenário pop, dá para pensar que vai ser, sim, feito mais um espetáculo de sua morte.
"King of Pop" aos 50 anos, 25 anos de "Thriller"... Morto aos quase 51.
Se sua vida foi trágica, a infância difícil e a idade adulta confusa, só posso dizer que o que sinto agora é uma nostalgia dos tempos em que a dança de Michael Jackson me encantou como mágica, e que me vem à mente só a lembrança do clip de "Smooth Criminal" e algumas cenas de aparições e o desenho animado de "The Jackson 5", momento de alegria da minha infância.

domingo, junho 21, 2009

Desamparo

"Vaidade é definitivamente meu pecado favorito". Frase bem peculiar a John Milton, ela só aponta o quanto toda uma legião de pessoas é acometida por tal pecado ao seguir os mandamentos do contemporâneo capital que investe nas maquinarias do poder. É verdade que o poder é uma substância da qual o ser humano não consegue se desvencilhar (talvez possamos até colocá-lo como um dos responsáveis pela evolução na caminhada do homem), mas minha crítica aqui é à alienação a que sucumbem os que tentam colocar na vida o sentido de esfacelamento do outro. É claro que há um juízo de valor aqui embutido, o que também pode ser verificado no filme "O advogado do diabo", quiçá deveras maniqueísta - só para prolongar a peleja entre Deus e o diabo. Entretanto, a questão que se coloca corresponde à relação do sujeito com o outro.
Ao desamparo da vida, encharcado de angústia, o homem segue o que de mais simples poderia criar como resposta: "O homem luta por reconhecimento". A essa máxima hegeliana, só podemos entrever nossa humanidade demasiada humana. Humanidade sedenta de sentido, sedenta de locupletações. Briga vã, pois, como disse Sartre, "O homem não pode desejar nada, a menos que antes compreenda que ele só pode contar consigo mesmo".
"One day you'll walk alone". Não. Desde sempre andamos sozinhos. Se é que podemos apostar em alguma garantia, podemos desejar algo a partir do momento em que podemos contar conosco. Assim como da psicanálise, que coloca o desejo como única garantia humana, é achado do existencialismo sartriano a liberdade da escolha - free will. Esse é o paradoxo do maniqueísmo religioso: Deus nos põe nos mesmos maus lençóis que seu antagonista.
À decisão pela vida regada à corrupção (e variados são os meios pelos quais nela se entra), à decisão pelo usufruto do que do outro podemos usar e abusar, à decisão pelo extermínio do que o outro nos traz como obstáculo, contrapõe-se a bondade, o ascetismo, a vida regrada, a reverência? O sacerdote, aqui, ocupa os dois lugares.
E, disso tudo, só podemos pontuar que, como sabiamente conceituou Heidegger, "O homem é um ser-aí no mundo". Ele e seu livre-arbítrio.
Cena de "O advogado do diabo".

sexta-feira, junho 12, 2009

Ventura

Dentre as pequenas coisas do universo, há as grandiosas - o simples olhar se acomete da mais pura sensação de regozijo quando percebe o amor. Como que um fruto se der­rete na língua, de lascívia minha mão sua ao abraçar com força a carne parceira, e a lágrima terna cai em homenagem à cena derradeira. Controle sobre os afetos, quem o consegue? Num único e pungente afago de desejo, homem e mulher revivem mil noites de amor já compartilhadas, gemidas e suadas, o que os tornam grandes e sublimes. São o acúmulo e a renovação de doçuras e carícias que nos juntam durante a noite, durante o dia, e mesmo à distância. E nesta voluptuosidade embaladora, em que estou mais perto dela, sou feliz quando entrelaço minha perna na sua – assim, como que, por ventura, eu tivesse encontrado na alcova a minha casa.
Pintura: "Danae" (1907/08), de Gustav Klimt.