domingo, junho 21, 2009

Desamparo

"Vaidade é definitivamente meu pecado favorito". Frase bem peculiar a John Milton, ela só aponta o quanto toda uma legião de pessoas é acometida por tal pecado ao seguir os mandamentos do contemporâneo capital que investe nas maquinarias do poder. É verdade que o poder é uma substância da qual o ser humano não consegue se desvencilhar (talvez possamos até colocá-lo como um dos responsáveis pela evolução na caminhada do homem), mas minha crítica aqui é à alienação a que sucumbem os que tentam colocar na vida o sentido de esfacelamento do outro. É claro que há um juízo de valor aqui embutido, o que também pode ser verificado no filme "O advogado do diabo", quiçá deveras maniqueísta - só para prolongar a peleja entre Deus e o diabo. Entretanto, a questão que se coloca corresponde à relação do sujeito com o outro.
Ao desamparo da vida, encharcado de angústia, o homem segue o que de mais simples poderia criar como resposta: "O homem luta por reconhecimento". A essa máxima hegeliana, só podemos entrever nossa humanidade demasiada humana. Humanidade sedenta de sentido, sedenta de locupletações. Briga vã, pois, como disse Sartre, "O homem não pode desejar nada, a menos que antes compreenda que ele só pode contar consigo mesmo".
"One day you'll walk alone". Não. Desde sempre andamos sozinhos. Se é que podemos apostar em alguma garantia, podemos desejar algo a partir do momento em que podemos contar conosco. Assim como da psicanálise, que coloca o desejo como única garantia humana, é achado do existencialismo sartriano a liberdade da escolha - free will. Esse é o paradoxo do maniqueísmo religioso: Deus nos põe nos mesmos maus lençóis que seu antagonista.
À decisão pela vida regada à corrupção (e variados são os meios pelos quais nela se entra), à decisão pelo usufruto do que do outro podemos usar e abusar, à decisão pelo extermínio do que o outro nos traz como obstáculo, contrapõe-se a bondade, o ascetismo, a vida regrada, a reverência? O sacerdote, aqui, ocupa os dois lugares.
E, disso tudo, só podemos pontuar que, como sabiamente conceituou Heidegger, "O homem é um ser-aí no mundo". Ele e seu livre-arbítrio.
Cena de "O advogado do diabo".

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