domingo, novembro 12, 2006

Dicionários e Libretos


A gente vai aprendendo que alguns pensamentos que estão na cabeça há algum tempo têm lá sua razão. Palavras que não apresentam nenhuma conexão com o restante do texto não significam que elas não tenham sentido, muito menos que o sentido esteja escondido. Com isso, fui percebendo o quanto nosso jeito de levar a vida vai obnubilando certos aspectos da nossa percepção e vai provocando uma certa separação (vide os momentos de êxtase na contemplação de uma obra de arte e o incômodo que uma música entendida como ruído pode provocar; lembre-se das vezes em que nos separamos de alguém que escreveu algo interessante, como se não tivéssemos capacidade de fazê-lo à nossa própria maneira). É, talvez a preocupação em entender desvirtue aquilo que se coloca como mensagem.
Artaud: "É preciso acabar com as obras-primas"; Beethoven: e a dificuldade que a tentativa de entender como uma pessoa que teve uma surdez progressiva e irreversível conseguiu construir algo tão grandioso como a 9ª Sinfonia; Rodin: e a irretocável precisão das curvas corporais; Einstein: e a teoria da relatividade?; Bispo do Rosário: e a confecção de seu casaco para chegar ao céu na hora de encontrar Deus?...
Energúmenos só querem olhos para ver o que não os cega. Obras-primas trazem algo de novo, mas o novo não aparece senão num ambiente sempre a porvir.
As produções humanas, enquanto criação (i)maculada de uma estética de vida, só pedem uma coisa: esqueça a nota do seu dicionalibreto, provoque uma outra que mais lhe aprouver... Deixe a música da sua palavra aparecer...
Foto de Man Ray.

4 comentários:

Anônimo disse...

Cada um insira o seu recheio!
Bjs

Anônimo disse...

Que saudade de você, Bruno!
:)
Beijo.

Anônimo disse...

Eu gosto do sabor das palavras perdidas.
Palavras rebeldes que fogem.
Sons que enganam e voam.

Beijoca e saudade de conversar com vc.

Lidiane disse...

Como é, menininho?
Estamos esperando atualização.