quinta-feira, dezembro 18, 2008

Omnibus

Manhã chuvosa trouxe esta segunda-feira. A sensação de suavidade, apesar da força com que a água acariciava a rua, era muito diferente do clima de janela-fechada, úmido e abafado, que se percebia dentro do ônibus. Cada passageiro com seu guarda-chuva, com sua bolsa, seu celular e seu mp3 à mão. Apetrechos, acessórios, pensamentos, músicas... mundos diferentes. Quantos deles estão presentes dentro de um ônibus? Talvez redes deles. Redes apressadamente incomunicáveis, mundos fechados, abismos dos mais abissais... "O coração é terra que ninguém pisa", dizem, ou seja, é mundo desconhecido. Não há dúvida, se somos estrangeiros para nós mesmos, imagine o que somos uns para os outros. Mas, em algum momento, essencialmente especial, uma porta se abre. Será que foi em um momento como esse que Michelangelo pensou o toque?

Pintura: “A criação de Adão”, de Michelangelo Buonarroti (1475-1564).

Um comentário:

Carolínea disse...

Meu amado, comovente a sua percepção do cotidiano, da distância do individualismo, mas, o que salta aos olhos, é a sua percepção da possibilidade do toque...