domingo, março 11, 2007

Insanidades em prol do novo


Guimarães Rosa disse que a gente morre para provar que viveu... Como escutar isso? Dá prá entender uma coisa dessas? Com certeza, não damos ouvido a algo do tipo assim, do nada... Dá para entender se percebermos que há um dedo de vida na morte e um dedo de morte na vida. (uma complicação a mais) Vida e morte formam um ciclo de difícil disjunção, em que não se tem delimitado onde começa uma e termina a outra. Elas são em todos os pontos da estrada - é, elas são (assim como gostaríamos de ser). A gente já nasce morrendo, as células têm idade e, mesmo em franca evolução, elas deterioram - a própria evolução já é uma deterioração. É por isso que, Heráclito bem disse, não entramos no mesmo rio duas vezes... O tempo se passou e não conseguimos segurá-lo, é tão fugidio quanto o rabo que o cachorro, pensando que é de outro, tenta tonteiramente pegar, é tão fugidio como a água que não fica em nossas mãos, é tão fugidio quanto o relógio que nunca mostra a mesma hora, mesmo que olhemos para o mesmo ponto do sol no céu do dia anterior... A sombra nunca é a mesma... Ela nunca é repetição do mesmo. Talvez precisemos questionar se existe algo que seja mesmo -- pois mesmo não tem nada novo. Será que nunca vivemos algo novo? Será que algo não precisa morrer para aparecer novo?...
"Aprendi com a primavera a me deixar cortar e voltar sempre inteira", escreveu Cecília Meireles. Deixemo-nos cortar...
"Banda de Moebius", de M.C. Escher

Um comentário:

Anônimo disse...

Em algumas ocasiões, não dá para evitar o corte. É preciso não temé-lo!